A
notícia é uma só: Covid-19. Nos jornais, nas ruas, nas casas, nos hospitais,
nas igrejas basta haver duas pessoas que o assunto vem a torna. É o amigo que partiu, o dono da padaria, o
mecânico que está no hospital e a lista aumenta que não dá pra fazer conta. Então
começa a surgir a dúvida sobre quem é o culpado do alto contágio do vírus
mortal. Na procura do culpado encontra-se
quem diga que é um certo país que
detectou o vírus pela vez e calou-se até a morte bater na casa de seus patriotas.
Dali o vírus espalhou-se pelo continente
europeu, atravessou o Atlântico e chegou ao Brasil antes do carnaval de 2020.
Em
plena folia, alertar sobre o perigo da Covid-19 era decretar falência econômica dos grandes empresários,
dos lucros das escolas de sambas, das redes hoteleiras, dos diversos patrocinadores
que vivem do lucro dessa tradição brasileira. Cantar a marchinha “Ó abre alas que eu quero passar”
de Chiquinha Gonzaga foi imperativo. E o
vírus passou, sambou e entrou nas igrejas, nas casas, nos mercados... onde
tinha vida ouviu-se um lamento de morte e sofrimento sem pedir licença.
A
maldita ganhou espaços gigantescos. O povo adoecido foi parar nas portas das
farmácias em busca de paliativos. Invectiva, cloroquina e outras “inas” nada adiantou. Nas portas dos hospitais, gritos
de socorro, mas a crise continuou e tripudiou, matando sem dó, sem escolher
idade, sexo, classe ou profissão. O povo! Será o povo o culpado? Onde está o
povo? Isolado? Não!!! Fugiu está na rua: está no trabalho, nas esquinas, nos bares
ganhando e perdendo a vida e tem que trabalhar!
E
nesse “tem que trabalhar” os ônibus lotam, as lojas enchem de clientes, os
jogadores de futebol entram em campo, as
escolas abrem para seus alunos, as feiras recebem seus clientes, os bailes
funks nunca param, desafiam as
autoridades como se o mundo fosse sexo, droga
e diversão. E assim, o vírus ganha vida
e vidas.
O
povo “tem que trabalhar” porque valor do Auxílio Emergencial é mínimo e não é para
todo mundo. É questão de honra levar o
pão para casa. Faz bem pra saúde ir à academia; frequentar a escola é cuidar da
educação da criança e do adolescente; viajar é aliviar o stress fugir da realidade;
fazer compras nos shoppings é empoderamento; visitar os amigos e familiares é
se importar com o outro. Quanta ilusão!!!
O vírus vai junto com o pão para casa, exercita-se na academia, frequenta
a escola, viaja por lugares jamais
imaginados, vira etiqueta de compras e
abraça famílias inteiras.
Nesse
abraçar surgiram as cepas. Medonhas, mortais, infalíveis e os decretos
governamentais, com seus escalonamentos e lockdowns não servem de barreiras para
contê-las porque diz que a culpa é do povo. Quem é o povo? Para quem se diz elite, é quem sai cedo para o trabalho
e superlota ônibus trens e metrôs; quem
frequenta a praia com a família; quem faz fila
pra receber benefícios do governo,
quem faz casa nas áreas de risco; o morador de rua; o que joga conversa fora
nas esquinas da cidade; o que não sabe usar a máscara obrigatória e não usa
álcool em gel nas mãos. Para quem é povão, a culpa é do governo que que não tem planos de combate ao vírus. O
governo não faz o que precisa fazer, diz que vacina o povo mas os índices de
contaminação não param de crescer. O governo é isto ou aquilo, não sabe o que
fazer.
Nessas
formas de pensar, a culpa é de lá ou de cá? Enquanto não se enxerga o culpado,
a sociedade perde a cada segundo um dos seus maiores legados, a vida.
Dorothéia Barbara Santos em 05/05/21
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